Colóquio debate relações científicas entre Portugal e Brasil após reforma pombalina

Carlota Simões, da direcção do museu da ciência.

As relações científicas entre Portugal e o Brasil após a Reforma Pombalina, que registaram "grande vitalidade" na sequência da mudança da corte para o continente americano, são debatidas quarta-feira em Coimbra num colóquio no Museu da Ciência.

Especialistas portugueses e brasileiros são oradores no debate, em que serão analisadas a vida e a obra de "três figuras-chaves da época": o naturalista Domingos Vandelli, o cientista e político ligado à independência do Brasil José Bonifácio de Andrada e Silva e o naturalista luso-brasileiro Alexandre António Vandelli, disse hoje Carlota Simões, da direcção do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra (UC).

"Há dois séculos, pela primeira e única vez na história, uma corte europeia mudava-se para o continente americano. Iniciava-se dessa forma um período de grande vitalidade no desenvolvimento da ciência, tanto em Portugal como no Brasil", refere a organização do evento.

O italiano Domingos Vandelli (1735-1816), professor na Universidade de Coimbra e fundador do Jardim Botânico desta cidade, dirigiu várias expedições científicas ao Brasil, tendo sido "uma figura fundamental no desenvolvimento da História Natural e da Química em Portugal". Foi o primeiro director do Laboratório Chimico, onde se situa o Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, palco do colóquio.

De acordo com um dos oradores no colóquio, o investigador brasileiro Adílio Jorge Marques, Alexandre António Vandelli (1784-1859), filho de Domingos Vandelli e genro de Andrada e Silva, é "herdeiro destas duas grandes mentes".

Ligado à independência do Brasil, o cientista José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), que ocupou a cátedra de Metalurgia na UC, especialmente criada para ele, , refere Adílio Marques.

O programa do evento compreende as comunicações "Cosmopolitismo e patriotismo em José Bonifácio de "teve Alexandre como orientando e seu ajudante no Laboratório Químico da Casa da Moeda de Lisboa, na Intendência Geral de Minas e Metais do Reino e na direcção da Real Ferraria da Foz do Alge"Andrada e Silva", por Ana Cristina Araújo, da Faculdade de Letras de Coimbra, e "As origens e as obras de José Bonifácio de Andrada e Silva", por Martim Portugal, do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC).

Alexandre António Vandelli chegou ao Brasil em 1834, naturalizando-se e actuando na disseminação de uma educação ilustrada junto do Imperador D. Pedro II e da família imperial como mestre de Botânica e Princípios de Ciências Naturais, segundo Adílio Jorge Marques, doutorando em História da Ciência do Departamento de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além de Adílio Jorge Marques, que vai falar sobre a vida e obra de Alexandre António Vandelli, no colóquio intervêm Décio Martins (Departamento de Física da FCTUC), com uma palestra sobre "Os brasileiros na reforma pombalina da Universidade", e Catarina Pires, bolseira de doutoramento do Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC, que aborda o tema "O Laboratório Chimico e o Colégio de Jesus: Espaços de Ensino e Divulgação da Ciência".

Com uma conferência sobre "Domingos Vandelli e a ciência das "utopias" científicas" intervém António Amorim da Costa, do Departamento de Química da FCTUC. Durante o colóquio, está também prevista uma visita guiada às colecções de mineralogia e zoologia da Universidade de Coimbra.